“As conversas são como as cerejas” (lá diz o rapaz do diário gráfico). A vida também é uma mão cheia delas (digo eu). Umas coisas trazem outras, que originam outras que trazem coisas que trazem outras e assim por diante. Há as cerejas doces, as azedas, as podres, as que custam a engolir…
Bem, falo em cerejas, porque o que quero escrever hoje vem na sequência de tudo o que me aconteceu ontem e me vai levar até às nêsperas.
Ontem fui a Lisboa com o objectivo de ir ao Ar.Co (Centro de arte e comunicação visual).
Quando cheguei à paragem do eléctrico nº28 já só lhe vi a parte de trás a subir a rua.Segui-lhe o trilho. Estava bem marcado e de certeza que ia dar ao destino pretendido. A meio da subida, vontade de fazer xixi. Precisava de entrar num café. Tive o cuidado de escolher um onde não estivessem a servir almoços, ou que pelo menos tivesse uma zona livre no balcão para os serviços mais rápidos. Encontrei, entrei. Serviam almoços. À primeira vista, dois. Mas ao balcão não estava ninguém e assim podia tomar um café – não que me estivesse a apetecer, mas acredito que deva ser enervante para um dono de um estabelecimento deixar que a casa de banho seja utilizada por não clientes.
- Boa tarde. É um café e um copo com água se faz favor.
- … (grunhidos) …
- Tem casa de banho?
- … (grunhidos) … lá (grunhidos) … lá em cima… (grunhidos) … tudo cheio…
- A casa de banho está cheia?!
- … (grunhidos) … cheia… cima…
-É lá em cima?...
Subi. No alto da minúscula escada em caracol fui barrado pelo dono do estabelecimento:
-O que é?
- Boa tarde. A casa de banho onde é?
- Está cheio…
- A casa de banho está cheia?
- … (grunhidos) … tudo cheio… clientes… almoços… cheio.
- Eu estou a consumir lá em baixo. Posso usar a casa de banho?
- … (grunhidos) … cheio … almoços…
-Oh homem! Nem casa de banho nem café, bolas!
Saí, deixando uma senhora atrás do balcão com um pires e uma chávena na mão a olhar para mim. Cerejinha podre
Eu sei, devia ter pedido o livro de reclamações e pronto. Estava com pressa e queria era uma casa de banho. Fico com a satisfação de terem tirado um café para o boneco e a esperança de que os dois senhores que estavam no andar debaixo tivessem começado uma longa conversa acerca disto e que tivesse durado a tarde toda.
Lá entrei noutro café. Também serviam almoços… Mas neste caso só os funcionários almoçavam. Nada de clientes à vista. Normal. Bebi o café, fui à casa de banho e ainda saí de lá com a informação de que já tinha passado para além do Ar.Co. Ah! Disseram obrigado. Cerejinha boa.
Assim que entro no Ar.Co pergunto à primeira pessoa que encontro pelo J. Era o próprio. Sorte.. Começava bem. Cereja a prometer ser boa.
Fomos ao bar, conversámos e ouvi cerejinhas doces. Mais doce só com o “bolo por baixo da cereja”.
Saí com a minha amiga Ana, que entretanto tinha chegado. Entrámos numa loja. Daquelas que agora vendem um artesanato revisitado e têm expostos trabalhos de vários artistas.
Mostrei à rapariga da loja o meu mini portfólio, quis ficar com ele. Para semana devolveria. Vão ter em breve uma zona dedicada à ilustração. Cereja boa.
Entra o N, professor no Ar.Co e amigo da Ana. Fomos os três tomar café.
Pela primeira vez na vida ouvi uma crítica ao meu trabalho, como há muito desejava ouvir. Construtiva, dita por quem sabe e que ajuda muito. Cerejinha ligeiramente azeda na certeza de virem muitas doces.
Na conversa e no meio de tanta cereja, acabámos por falar do “estereótipo” da boazona portuguesa. Hum… Boazona portuguesa?... Alguém sabe como é? Sei da brasileira, da americana, da sueca, da italiana… da portuguesa?... não estou a ver.
Hoje levantei-me cedo. Na esplanada de um café na avenida estava à coca. “Deixa ver se passa aqui a boazona portuguesa”. Talvez por ser cedo não vi nenhuma. As boazonas devem dormir até mais tarde, ou passam pela avenida quando eu lá não estou.
Mas vi outra coisa.
Uma cereja azeda portuguesa que me custa a engolir. Daquelas que nos descuidamos e lá vai o caroço, que fica “aqui” entalado.
Já que não encontrei a boazona portuguesa, vou descrever o estereótipo da cereja azeda que se come com caroço. Se calhar chamar-lhe cereja é bom demais…
(como o post já vai longo passo para outro)
Bem, falo em cerejas, porque o que quero escrever hoje vem na sequência de tudo o que me aconteceu ontem e me vai levar até às nêsperas.
Ontem fui a Lisboa com o objectivo de ir ao Ar.Co (Centro de arte e comunicação visual).
Quando cheguei à paragem do eléctrico nº28 já só lhe vi a parte de trás a subir a rua.Segui-lhe o trilho. Estava bem marcado e de certeza que ia dar ao destino pretendido. A meio da subida, vontade de fazer xixi. Precisava de entrar num café. Tive o cuidado de escolher um onde não estivessem a servir almoços, ou que pelo menos tivesse uma zona livre no balcão para os serviços mais rápidos. Encontrei, entrei. Serviam almoços. À primeira vista, dois. Mas ao balcão não estava ninguém e assim podia tomar um café – não que me estivesse a apetecer, mas acredito que deva ser enervante para um dono de um estabelecimento deixar que a casa de banho seja utilizada por não clientes.
- Boa tarde. É um café e um copo com água se faz favor.
- … (grunhidos) …
- Tem casa de banho?
- … (grunhidos) … lá (grunhidos) … lá em cima… (grunhidos) … tudo cheio…
- A casa de banho está cheia?!
- … (grunhidos) … cheia… cima…
-É lá em cima?...
Subi. No alto da minúscula escada em caracol fui barrado pelo dono do estabelecimento:
-O que é?
- Boa tarde. A casa de banho onde é?
- Está cheio…
- A casa de banho está cheia?
- … (grunhidos) … tudo cheio… clientes… almoços… cheio.
- Eu estou a consumir lá em baixo. Posso usar a casa de banho?
- … (grunhidos) … cheio … almoços…
-Oh homem! Nem casa de banho nem café, bolas!
Saí, deixando uma senhora atrás do balcão com um pires e uma chávena na mão a olhar para mim. Cerejinha podre
Eu sei, devia ter pedido o livro de reclamações e pronto. Estava com pressa e queria era uma casa de banho. Fico com a satisfação de terem tirado um café para o boneco e a esperança de que os dois senhores que estavam no andar debaixo tivessem começado uma longa conversa acerca disto e que tivesse durado a tarde toda.
Lá entrei noutro café. Também serviam almoços… Mas neste caso só os funcionários almoçavam. Nada de clientes à vista. Normal. Bebi o café, fui à casa de banho e ainda saí de lá com a informação de que já tinha passado para além do Ar.Co. Ah! Disseram obrigado. Cerejinha boa.
Assim que entro no Ar.Co pergunto à primeira pessoa que encontro pelo J. Era o próprio. Sorte.. Começava bem. Cereja a prometer ser boa.
Fomos ao bar, conversámos e ouvi cerejinhas doces. Mais doce só com o “bolo por baixo da cereja”.
Saí com a minha amiga Ana, que entretanto tinha chegado. Entrámos numa loja. Daquelas que agora vendem um artesanato revisitado e têm expostos trabalhos de vários artistas.
Mostrei à rapariga da loja o meu mini portfólio, quis ficar com ele. Para semana devolveria. Vão ter em breve uma zona dedicada à ilustração. Cereja boa.
Entra o N, professor no Ar.Co e amigo da Ana. Fomos os três tomar café.
Pela primeira vez na vida ouvi uma crítica ao meu trabalho, como há muito desejava ouvir. Construtiva, dita por quem sabe e que ajuda muito. Cerejinha ligeiramente azeda na certeza de virem muitas doces.
Na conversa e no meio de tanta cereja, acabámos por falar do “estereótipo” da boazona portuguesa. Hum… Boazona portuguesa?... Alguém sabe como é? Sei da brasileira, da americana, da sueca, da italiana… da portuguesa?... não estou a ver.
Hoje levantei-me cedo. Na esplanada de um café na avenida estava à coca. “Deixa ver se passa aqui a boazona portuguesa”. Talvez por ser cedo não vi nenhuma. As boazonas devem dormir até mais tarde, ou passam pela avenida quando eu lá não estou.
Mas vi outra coisa.
Uma cereja azeda portuguesa que me custa a engolir. Daquelas que nos descuidamos e lá vai o caroço, que fica “aqui” entalado.
Já que não encontrei a boazona portuguesa, vou descrever o estereótipo da cereja azeda que se come com caroço. Se calhar chamar-lhe cereja é bom demais…
(como o post já vai longo passo para outro)
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